sábado, 22 de agosto de 2009

As Reentrâncias Maranhenses

















Conhecer as reentrâncias maranhenses realmente foi uma enorme aventura e consistiu em uma e experiência formidável. A onipotência das florestas de manguezais formada pela grande densidade árvores altíssimas; o mar encrespado que ora está cor de caldo de cana, ora verde esmeralda e um vento forte que não para dão o cartão de visita de uma região fervilhante de vida. Guarás, garças, socós, fragatas, maçaricos e gaivotas fazem parte de comitê aéreo de boas vindas. Por outro lado, os siris, caranguejos, aratus e principalmente os chama-marés costumam a protagonizar um espetáculo de coreografias distintas, talvez convidativa para o espetáculo da natureza. Na água do mar há uma escolta para formada por cardumes indóceis de sardinhas e tainhas, além de grupos de golfinhos freneticamente exibidos ciceroneando os passeios.

Cenários exuberantemente monótonos, por se tratar de faixas intermináveis de manguezais, mas de repente você se depara com mantos de areias bem alvas que quebram a continuidade de uma paisagem verde, verde do manguezal e verde do mar, apresentando feições repletas de dunas, restingas e falésias, quando a visita é feita logo no fim estação chuvosa se torna mais agradável, pois as lagoas funcionam como um bônus para todos que desejam se refrescar. Convenhamos, é um bônus tentador e irresistível.

O cenário de abundância de recursos pesqueiros a princípio é de deixar qualquer um de queixo caído, mas isso ocorre apenas nos primeiros minutos. Pois, até você saber o preço da corvina-gó, da pescada amarela, da cavala e do delicioso e graúdo camarão você não vai parar de mastigar. Uma saída de barco sem um avoado (peixe escalado preparado em fogareiro) dá sabor a epopéia. O quilo do peixe é muito barato, o peixe mais caro custa R$7,00 o quilo, no período de maio a julho os peixes estão em grande abundância, gordos e muito baratos. O camarão pode ser encontrado entre R$4,00 e R$10,00. Porém, quando peixe chega na sua mesa o valor é Infelizmente quase 100% acima, ou mais, do valor vendido ainda no barco.

Essa abundância elevada também tem suas outras conotações, os peixes mais apreciados são aqueles pertencentes às famílias Ariidae (bagres) e Sciaenidae (pescadas) que como foi dito acima atingem valores bem simplórios, enquanto as outras espécies que não são tão apreciados têm o valor de mercado irrisório. Contudo, a preleção por alguns tipos de pescados gerados pelo mercado consumidor até que não responde tanto no quesito desperdício quando comparado com a pesca predatória, pois mesmo pegando peixes de baixo valor o próprio pescador garante o sustento da sua família levando o subproduto da sua pescaria para sua casa.

O principal problema é denominado e identificado facilmente, chama-se pesca predatória. É comum encontrar muitas varas fincadas na água, às vezes é um perigo para a navegação por potencialmente poder causar acidentes, as vezes causam mesmo. Quando nos aproximamos notamos que constituem vários tipos de armadilhas, como: currais, zangaria e muruada. Os currais são armadilhas fixas com varas e arames (ou cipós) dispostas estrategicamente para aprisionar cardumes e que são despescadas na maré vazante, representa cerca de 10% da pesca artesanal do Estado. A zangaria é outra armadilha tradicional, constitui na fixação enfileirada de muitas varas que servem de suporte para uma rede com entrenós muito pequenos e com seu entalhe inferior preso às varas, sua extensão chega alcançar até 1.700m. A razão do uso da zangaria é capturar camarões, porém captura muitas espécies de peixes juvenis que são descartadas. Outra armadilha que utiliza varas e um tipo de rede grande, chamada de puçá (lembra um saco de coar café) é a muruada. Como o próprio nome sugere, há um enfileiramento longo de varas e entre seus intervalos são fixados os puçás, também constitui em uma armadilha para capturar camarões e desperdício de outras espécies marinhas.

Podemos observar com grande freqüência brilhos no mar, que correspondem a peixes prateados (coloração comum de peixes que vivem ambientes estuarinos) mortos ou bandos de urubus, caracará e gaivotas na praia se banqueteando de peixes rejeitados por pescadores de camarão. Outro problema que aumenta a realização de práticas ilegais é a falta de uma fiscalização efetiva nas pescarias do Estado. Campanhas de educação ambiental para a sensibilização sobre a reserva de estoques pesqueiros, desenvolvimento de novas tecnologias acessíveis e aconselhamento técnico são ferramentas que podem surtir alguns efeitos principalmente quando os próprios atores estão envolvidos no processo e se houver comprometimento político do Estado e dos municípios para melhor gerenciar seus recursos. Pois, os mecanismos para integrar manejos e gerenciamento estão à disposição, mas está faltando fazer acontecer.

É uma bela viajem!

Para conhecer mais:

ALMEIDA, Z.S.; CASTRO, A.C.L.; PAZ, A.C.; RIBEIRO, D.; BARBOSA, N. & RAMOS, T. 2006. Diagnóstico da pesca artesanal no litoral do estado do Maranhão. PP. 41-65. In: ISAAC, V.J.; MARTINS, A.S.; HAIMOVICI, M. & ANDRIGUETTO, J.M. (Org). A pesca marinha e estuarine do Brasil no início do sécul XXI: recursos, tecnologias, aspectos socioeconômicos e institucionais. Belém: Editora Universitária UFPA. 188p.

ALMEIDA, Z.S.; COELHO, G.K.F; MORAIS, G.C. & NAHUM, V.J.I. 2007. Inventário e diagnóstico das espécies ícticas comerciais marinhas e estuarinas maranhenses. pp. 13-66. In: Silva, A.C & Fortes, J.L.O. Diversidade biológica, uso e conservação dos recursos naturais do Maranhão: Projetos e ações em química e biologia. Volume 2. São Luís: Editora UEMA. 366p.

PIORSKI, N.M.; SERPA, S.S. & NUNES, J.L.S. 2009. Análise comparativa da pesca de curral na Ilha do Maranhão, Maranhão - Brasil. Arquivos de Ciências do Mar. 42(1):65-71.