segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Orla de São Luís já passa por mudanças em seu ecossistema






É consenso entre pesquisadores e leigos que a destruição ou alteração de um ecossistema em qualquer parte do planeta tem efeitos nocivos, tanto para as vítimas quanto para os autores desse desequilíbrio ambiental. E isso acontece não necessariamente no local onde o desequilíbrio foi provocado. Nas últimas semanas, a região litorânea da Ilha de São Luís tem vivenciado isso de perto. Indícios de ataques de tubarão a banhistas e o aparecimento de toneladas de sardinhas mortas em São José de Ribamar são fatos que confirmam os efeitos da ação humana no nosso litoral. Além disso, não se pode esquecer que nos últimos anos surgiram novas espécies de peixe e siris nocivos ao ecossistema marinho. Justamente em função de desequilíbrio em outras faixas litorâneas, mas que acabam também causando um desequilíbrio ecológico no Maranhão. No dia 9 deste mês, Ingled Brasil Sousa Marques, de 13 anos, foi encontrada morta na praia do Calhau sem os braços e sem as pernas, com indícios de mordidas de animais marinhos. Ela desapareceu na tarde do dia 7, na praia do Araçagi, quando brincava no mar com outros quatro amigos da igreja evangélica Assembléia de Deus, Ministério Madureira, da Liberdade. Ela era estudante de uma escola pública da Liberdade. De acordo com o professor Nivaldo Piorski, mestre em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e professor do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a possibilidade de a adolescente ter sido morta após um ataque de tubarão, como chegou a ser ventilada, é pequena. Nesse caso, a hipótese mais provável é que ela tenha morrido afogada e que depois, com as correntes marinhas, ela tenha sido levada após a área de arrebentação onde normalmente vivem esses animais. E, aí sim, o animal pode ter se alimentado dos restos mortais da adolescente. Porém, com base no que já foi verificado em outros litorais como o de Recife (PE), o professor alerta que existem algumas condicionantes ligadas à ação do homem que propiciam a aproximação de tubarões, ou de peixes menores mas igualmente nocivos, das áreas de banho na costa maranhense. E que isso abre a possibilidade de ataques de tubarões a freqüentadores da orla maranhense, embora, essa hipótese, até o momento, seja um pouco distante. A primeira diz respeito à grande quantidade de navios atracados no litoral da capital maranhense, os quais normalmente lançam grande quantidade de lixo na orla marítima, atraindo animais como os tubarões. E a outra diz respeito à grande quantidade de esgoto lançado in natura nas águas da capital. Os dejetos também atraem esses animais para mais próximo das faixas de areia. Deve-se destacar que, recentemente, um estudo do Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma) comprovou que de cinco praias pesquisadas quatro estavam impróprias para o banho justamente pela grande quantidade de esgoto lançada diretamente no mar. Para Nivaldo Piorski, os desequilíbrios ambientais na costa maranhense existem, mas ainda não foram suficientes para gerar situações como em Recife onde os ataques de tubarão a banhistas são freqüentes. "Aqui, os ataques são raros, mas é inegável que estamos vendo uma descaracterização (do ecossistema aquático). As ações de descarga de esgoto nas praias é muito grande. Além do estudo do Uniceuma, estava conversando com o pessoal da Sema (Secretaria de Meio Ambiente) e eles me disseram que praticamente em toda a Ilha as áreas de banho estão comprometidas com o lançamento in natura (de esgoto). Existe a questão dos navios que estão se aproximando mais daqui. Então, tudo isso se configura para aproximar mais esses bichos da região", explicou o professor da UFMA. Mesmo com esses fatos que favorecem a aproximação de tubarões das áreas de banho, existe um detalhe que, de certa maneira, ainda propicia que ataques, mesmo em áreas marítimas longínquas, sejam raros em São Luís. "É lógico que a nossa costa tem uma diferença muito grande em relação a Recife. A nossa plataforma é muito mais próxima. Teoricamente a superfície mais rasa dificulta o ataque de tubarão porque dificulta a locomoção do bicho. As condições da água também são importantes. Existe muito igarapé por perto e a salubridade não é ideal para a aproximação dos tubarões", analisou o professor da UFMA. Ação humana pode ser causa de morte de peixes A morte de aproximadamente 10 toneladas de sardinhas no Porto do Vieira, no município de São José de Ribamar, distante 31 km de São Luís, também é um fenômeno que pode ser explicado por uma ação antropomórfica, conforme pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão e técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Neste caso, não necessariamente existe um crime ambiental, mas, pelos indícios prévios, provavelmente a grande quantidade de sardinhas encontradas foi fruto de um ato de pesca predatória. "A gente imaginou várias hipóteses (para a morte dos peixes), falta de oxigênio, uso de timbó (veneno), uso de tapagem e aí conversando com outras pessoas da universidade avaliamos que é muito difícil detectar, nesse momento, o que de fato aconteceu. Mas um desequilíbrio ambiental não foi. Sem dúvida houve efeito antropomórfico. Pode ser mais uma ação predatória", analisou o professor Nivaldo Piorski. Nesse caso, independentemente do que tenha realmente ocasionado a morte das sardinhas, os especialistas alegam que, sem dúvida, haverá um processo de desequilíbrio ecológico na região. Principalmente porque nesse período (setembro e outubro), vários cardumes procuram outras áreas para se reproduzir e procurar alimentos como plânctons e zooplânctons. E parte da cadeia alimentar de outros peixes deve ser prejudicada em Ribamar. "Vários peixes se alimentam de sardinhas e, sem elas, também poderão morrer", afirmou a analista ambiental do Ibama, Ciclene Brito. Mas os desequilíbrios ambientais na costa maranhense não se atêm apenas a possíveis ataques de tubarão ou cardumes que aparecem mortos. Nos últimos anos, apareceram na costa maranhense novas espécies de siris e de peixes que não estavam habitados no litoral local justamente por desequilíbrios ambientais em outras costas marítimas. Um exemplo é o peixe predador Blênio Focinhudo. "Esses peixes chegam à nossa costa acompanhando os navios ou mesmo em águas de lastro. Ao chegar aqui, eles precisam se readaptar e isso causa um desequilíbrio na costa, sem dúvida", finalizou o doutor em Oceanografia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Jorge Luiz Silva Nunes. Mais O litoral maranhense é o segundo maior em extensão em todo o Brasil. São 640 km de litoral, perdendo apenas para o litoral baiano, que tem 932 km. O litoral maranhense responde por 8,7% da costa brasileira; o baiano, por 12,7%.

http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2009/09/27/pagina161973.asp

Fonte: Wilson Lima, O Estado do Maranhão.




Fotos: Tribuna do Maranhão