terça-feira, 13 de novembro de 2007

Barbarismo com os tubarões no Brasil.

Por Marcelo Szpilman

As cenas mostradas no noticiário local da RBS Notícias de Florianópolis nesse fim-de-semana, em que a barbaria dos pescadores contra um indefeso animal é acompanhada pelo público, me faz lembrar mais uma vez dos tempos da "escuridão", na Idade Média e na Inquisição, onde as execuções dos grandes vilões e pecadores eram expostos em praça pública para "deleite" da platéia.

A chamada da notícia é a seguinte: "Ação cruel na praia da Capital. Uma fêmea grávida de tubarão martelo, espécie em extinção, é capturada e morta a facadas enquanto estava em trabalho de parto."

A reportagem pode ser vista na íntegra através do link abaixo.
http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=2&contentID=3549&channel=41

Mas por que os pescadores empregam tamanha crueldade contra um animal e a população em geral pouco protesta? Simplesmente porque o animal em questão é um tubarão, e um tubarão está sempre acompanhado pelo falso estigma de "comedor de homens". E é essa fama irreal de "assassino dos mares" que faz com que o pescador se auto-invista como o macho-herói-protetor que mata a grande fera e a população apoie tal insanidade. Será que se fossem cadelas ou gatas grávidas haveria mais repúdio?

Nesses momentos, costuma-se discutir inutilmente se são ou não tubarões agressivos. Mas será que já não está na hora de percebermos que todos os animais, independente de seu potencial de ameaça aos seres humanos, merecem respeito e devem ser protegidos da ação predatória e inconseqüente do homem? E olha que o litoral de Santa Catarina está praticamente livre de ameaças de ataque de tubarão (nos últimos 86 anos somente 01 ataque foi registrado em todo o Estado, e não foi de tubarão-martelo).

O mais importante é perceber o que estamos fazendo com os tubarões em nossa costa e identificar o grau de ameaça a que eles sim estão expostos. No caso do tubarão-martelo, seu declínio é de 90% nos últimos 20 anos. Ou seja, só temos hoje 10% do estoque de tubarões-martelos que existiam há duas décadas. O agravante nesse caso é que se tratava de uma fêmea grávida que abortou seus filhotes (atitude comum em caso de forte estresse). Acrescente-se a isso o fato de que essa fêmea, que só se reproduz uma vez a cada dois anos, levou cerca de 12 anos para atingir sua maturidade sexual. Como são espécies ameaçadas de extinção, uma fêmea grávida representa uma grande perda para sua fragilizada população.

Já está na hora de juntar esforços que assegurem a sustentabilidade da pesca dos tubarões. Necessitamos de uma verdadeira legislação de proteção que efetivamente venha a cercear a pesca predatória e a sobrepesca das espécies de tubarões, de modo a reprimir os atos conseqüentes e inconseqüentes dos pescadores comerciais, artesanais ou industriais. Precisamos de limites (ou cotas) para a quantidade de tubarões pescados, proteção de áreas de berçario e épocas de defeso.

Atualmente, temos no máximo 70 ataques de tubarão por ano no mundo todo. Estatísticas da FAO (órgão das Nações Unidas) estimam que 100 a 150 milhões de tubarões são capturados e mortos anualmente em todos os oceanos. Quem são os verdadeiros assassinos dos mares?


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