A rede hidrológica do
Estado do Maranhão está inserida em três regiões hidrográficas
Tocantins/Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental e Parnaíba. Prováveis
diferenças entre unidades populacionais despontam quando se tenta estabelecer
áreas de endemismo incluindo rios do Maranhão, tomando por base principalmente
padrões de distribuição geográfica de peixes. A análise de tais áreas e dos
padrões de distribuição permite observar que os rios do Maranhão abrigam um
conjunto de espécies endêmicas e, também, várias outras de ampla distribuição compartilhadas
entre as áreas vizinhas. As relações entre os componentes da ictiofauna
maranhense e das drenagens vizinhas, principalmente amazônicas, têm sido
explicadas em termos de dispersão costeira e, dessa forma, influenciadas
essencialmente pelas variações em nível do mar. Entretanto, uma análise mais
aprofundada das informações geológicas disponíveis para a região revelou que
desde o Mioceno-Plioceno vários eventos neotectônicos estiveram em ação
modelando e individualizando as drenagens. Uma dessas estruturas está localizada
entre os vales dos rios Mearim e Tocantins, produzindo anomalias em cotovelo
nas drenagens de terceira ordem e exercendo forte controle nas drenagens de
primeira e segunda ordem. Um evento vicariante importante deve ter sido
protagonizado pela formação da Serra do Tiracambu, no extremo oeste do Estado
do Maranhão. A idade aproximada deste evento coincide, por exemplo, com a idade
estimada para divergência entre linhagens de Hypostomus envolvendo
drenagens amazônicas e maranhenses. Eventos mais recentes (de até 2-3 Ma), tais
como, o Ciclo Velhas, reativações tectônicas das falhas que deram origem ao
Arco Férrer-Urbano Santos e formação do Golfão Maranhense podem ter exercido
papel importante na diferenciação regional da ictiofauna. Associados à dinâmica
geomorfológica, movimentos de transgressão e regressão marinha isolaram ou
reduziram o contato posterior entre as bacias. Simulações utilizando a base de
dados HydroSHEDS sugerem que a influência das variações eustáticas do mar foi
maior nos rios com desembocaduras na região do Golfão Maranhense. Como consequência
destes eventos, variações menores dentro das espécies foram estabelecidas entre
as diferentes drenagens. A análise permite compor uma hipótese nula de trabalho
em que os agrupamentos biogeográficos previstos para a região apresentam a
seguinte configuração: [Parnaíba [Itapecuru [Mearim Pindaré]], [Tocantins [Gurupi
Turiaçu]]. Assim, em contraposição à visão simplista de dispersão costeira,
indicamos pelo menos quatro eventos vicariantes responsáveis pelas variações
observadas na ictiofauna da região. Apesar da possibilidade de comunicações
transitórias terem sido estabelecidas entre afluentes das partes médio-baixa do
Turiaçu com médio-baixa do Gurupi e Tocantins, acreditamos que dispersão
costeira apenas foi possível através do GolfãoMaranhense.
Palavras-chave: biogeografia,
ictiofauna, geologia histórica, áreas de endemismo.
POR:
Fonte financiadora: Banco da Amazônia (BASA).
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